segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Madeleine Peyroux. P.1

Em 1996, quando Dreamland foi lançado, algo chamou atenção da crítica: a cantora tinha a voz igual a de Billie Holiday. Se esse fosse o único chamariz, teria fracassado. Yves Beauvais, AR da Atlantic Record a descobriu cantando num bar dos arredores de Nova York a partir da dica de um amigo. Conseguiu contratá-la e foi produtor do disco junto com o baixista Greg Cohen. Yves cuidou muito bem de sua “descoberta”. Arregimentou músicos de jazz do primeiro time como o saxofonista James Carter, os pianistas Cyrus Chestnut e Stephen Scott, o trumpetista Marcus Printup e o baterista Leon Parker, a violinista Regina Carter, além do guitarrista Vernon Reid, antigo membro da banda Living Color e o também guitarrista Marc Ribot, conhecido por suas contribuições para Tom Waits, Lounge Lizards e o gringo-pernambucano Arto Lindsay. Sem ser exatamente um grande disco, mesmo assim Madeleine mostrou que vinha para ficar.

Para quem não sabia do problema do que ocorrera com sua voz, foi muito estranho o seu sumiço depois de tão auspiciosa estreia. Com exceção do CD que fizera com William Galison, oito anos separam Careless Love de seu primeiro disco. É muito tempo, o suficiente para qualquer um cair no esquecimento. Porém, ela não era “qualquer um”. A maioria do público a conhece a partir desse álbum: Dance Me to the End of Love, original de Leonard Cohen, foi largamente tocado e divulgado.

Apesar de boas interpretações no disco de estreia – La vie en rose, Hey Sweet Man, blues composto por Madeleine, A Prayer, em ritmo de música de parada americana e Muddy Water, em que ela parece a própria Billie Holiday reencarnada – acontece um salto qualitativo nos posteriores. Isso se deve, em parte, à produção de Larry Klein, o mago das vozes femininas. Sua longa parceria com a então companheira, Joni Mitchell, resultou em um conjunto de discos que representam a fase madura da compositora e cantora. Sua boa mão na produção é perceptível nos discos de Luciana Souza e Melody Gardot: basta comparar os imediatamente anteriores aos que produziu.

A atmosfera relaxada imprimida pelos músicos combina perfeitamente com o mood das composições próprias e das de outros autores como Bob Dylan (You’re Gonna Make Me Lonesome When You Go), Vincent Scotto (J’ai deux amours) e Hank Williams (Weary Blues). A guitarra econômica de Dean Parks e, principalmente, o trabalho do organista Larry Goldings, que toca piano acústico e o elétrico wurlitzer, são os responsáveis pela atmosfera do disco. Os destaques, além da canção de Leonard Cohen, são Between the Bars e This Is Heaven to Me, a última.

Em Half the Perfect World, de 2006, Larry Klein é parceiro de Peyroux em várias composições, além de produtor. O álbum é uma coleção de boas interpretações, a começar da música tema do filme Midnight Cowboy, filme de John Schlesinger, protagonizado por John Voigt e Dustin Hoffman, Everybody’s Talkin’. A canção de Fred Neil, que tornou-se clássica na voz de Harry Nilsson, em 1969, com “Madi” é mais suave no belo arranjo em que o ritmo é dado por uma sutil percussão. Madi recebe a canadense k.d. lang em River, da também canadense Joni Mitchell. O terceiro canadense, Leonard Cohen, é o compositor de Half the Perfect World e da bela – uma das mais mais do disco – Blue Alert. Para completar, Madi interpreta La javanaise, de Serge Gainsbourg e termina com a eterna e bela Smile, de Charles Chaplin, John Turner e Geoffrey Parsons. “You’ll find that life is still worthwhile/ If you just smile.” Sim, vale a pena.

Como o texto está ficando longo, a segunda parte é sobre o último CD e sobre o DVD que acaba de ser lançado.

Sites:
Dance Me to the End of Love:



La javannaise:




Publicado 3/11/2009

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