Uma suposição é a de que o sucesso de alguns, como o de Diana Krall e algumas injunções “comercialísticas” de sua gravadora a tenham levado a aventurar-se pelo canto. Se isso resultou em aumento das vendas, eclipsou suas qualidades no teclado. Por obra do destino está casada com o último baixista de Bill Evans, Marc Johnson. Elias antes foi casada com o trumpetista “fusion” Randy Brecker, irmão do saxofonista tenor Michael Brecker, que produziu Eliane Elias Plays Jobim.
Poses sensuais não são exclusividade de Diana Krall |
King Cole é o primeiro nome que vem à lembrança quando o assunto é “instrumentistas/cantores”. Há aqueles ocasionais como Maynard Ferguson, Dizzy Gillespie, que não faziam feio quando cantavam. Nos tempos mais contemporâneos, os mais conhecidos são mesmo Diana Krall e o guitarrista John Pizzarelli, que tem voz agradável e bom ritmo e, menos um pouco, o pianista Peter Cincotti e Harry Connick, Jr., que anda meio sumido depois de ter feito fama com a trilha de When Harry Met Sally…, que depois resolveu atirar para tudo quanto é lado, arriscando-se, inclusive a ser ator no belo filme Memphis Belle, em que canta um competente Danny Boy. O mundo está sempre um ponto a mais que sua verdadeira capacidade. Mas não é assim que “caminha a humanidade”?
A menção a Cole não é despropositada: ele é um dos ídolos de Krall, tendo gravado, inclusive, um disco dedicado a ele, All for You, de 1986, que tem um belíssimo Hit that Jive Jack e um sensível Boulevard of Broken Dreams, com um lindo solo de piano e uma delicada percussão abolerada. Como ele, Krall foi abençoada com uma voz especial.
Nas linhas ou entrelinhas, o que aqui se coloca está claro. Eliane Elias embalou-se pelo sucesso dessa fórmula. “Já que Krall canta, por que não eu?” Se não estiver enganado, a primeira vez em que cantou foi na última faixa – Por Causa de Você –, em Eliane Elias Plays Jobim, de 1990. Há uma grande diferença em ser cantora ocasional, soltando a voz aqui ou acolá e fazer um disco em que isso é a tônica.
Em 1998, lançaria Eliane Elias Sings Jobim cantando em quase todas as faixas. Coincidência ou não, a capa e o encarte é uma coleção de fotos em imagens sensuais: na capa, um perfil lânguido e um generoso decote de um vestido estampado curto se recorta tendo ao fundo uma piscina. Quer capa mais sugestiva? Nas imagens internas, de cabelos soltos, faz poses tão “sensuais” quanto. É uma bela mulher, sem dúvida. Mas, precisa? Quando a imagem é melhor que o som, alguma coisa anda errada. Elias é afinada, mas não solta a voz. Nos discos posteriores continuou a soltar a voz presa.
Em 2007, gravou um tributo a Bill Evans: Something for You. Tem bons momentos. Coincidência ou não, Elias sempre esteve próxima a alguns músicos que acompanharam Evans: Marc Johnson, e Eddie Gomez, baixista também, que o acompanhou por muitos anos. No tributo, toca o baixo, Marc Johnson, e a bateria, Joey Baron. Deu um trio afinado que não deixaria Evans com vergonha. O problema desse álbum é o mesmo: é quando canta.
No ano seguinte, lançou Bossa Nova Stories. De novo, imagens lânguidas, desta vez, com visual mais formal e elegante. Lembra Krall pelas piores intenções. Convenhamos: é uma bela cinquentona (completados em março de 2010). Se o visual é deslumbrante, o repertório é aquele mesmo de sempre, alternados de clássicos da bossa nova com “standards” em ritmo idem. É uma fórmula bem desgastada que começou com Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, lançado em 1967, onde o “Rei da Voz” canta Change Partners, de Irving Berlin – vejam, foi composta em 1938! – e I Concentrate on You (1940), de Cole Porter, em ritmo bossa nova. Sinatra e Jobim foram geniais. Alguns desses filhotes são bons e até brilhantes. Mas não é o caso desse Bossa Nova Stories.
Elias não faz feio ao piano. Nessa apresentação, toca com o marido Marc Johnson e o baterista Satoshi Takeshi.
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