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terça-feira, 5 de abril de 2011

Várias formas de dizer “não me deixe”

Ainda não consegui saber se gostei ou não da cantora Maria Gadú. Achei sua voz um tanto parecida com a da cantora anglo-nigeriana Sade Adu. É correto dizer que uma boa divulgação pode convencer que tal ou qual produto é bom. Nesse mundo de cantoras surgindo, só assim. Tem CéU, Maryana Aydar, Ana Cañas, Veronica Ferrarini… são bonitas ou chamam a atenção por atributos extramusicais. Pergunto se a questão física é um quesito básico nesses dias em que vivemos. Nem Ella Fitzgerald e nem Billie Holiday e muito menos Bessie Smith eram exatamente modelos de beleza. Os tempos são outros, mas, o que ficará desses novos “talentos”? Com certeza, suas qualidades como cantoras.

Maria Gadú é mais um intérprete que gravou Ne me quitte pas. Tem sua originalidade. Maria canta num ritmo “balançado”, em que o lado “fossa” fica de fora. Não combina com a música.

Ne me quitte pas, de Jacques Brel, ganhou mundo
O melhor guia de interpretação de uma canção, geralmente, é a versão de quem a compõe. O autor de Ne me quitte pas, o franco-belga Jacques Brel, afirma que ela não é uma canção de amor e sim sobre a “covardia de um homem”. Até quem não entende uma só palavra de francês, como eu, sente que o refrão ‘ne me quitte pas’ repetido várias vezes é uma súplica. Antes de ser romântica, é dramática. Sua interpretação é guiada por esse mote. E é espetacular. Acompanhado apenas pelo piano em seu início, lá pela metade dela ouvimos os sons da orquestra – quase não se ouve de tão baixo – e, no finalzinho, surge o som de uma flauta no canal direito. Das dezenas de Ne me quitte pas que conheço, quase todas são muito próximas à de Brel.

Se tinha gente que não a conhecia, depois que a interpretação de Maysa dessa música foi utilizada como tema de abertura para a minissérie Presença de Anita, usando “aquele” lugar-comum, de norte a sul, popularizou-se. Tem gente que tende a desprezar o que fica popular. Como se fossem parte de uma “elite”, sentem-se especiais por “gostar” apenas do “que uns poucos eleitos conhecem”. É o preconceito raso dos que “se acham”. O que tem qualidade está acima dessa “pobreza”.

Ne me quitte pas é uma das canções francesas mais gravadas, merecidamente. Caiu não só no gosto dos intérpretes “populares”, mas também no dos que são mais identificados como jazzistas. Dessa infinidade de gravações, talvez a mais conhecida – o que não quer dizer que seja a melhor – seja a de Nina Simone. Sua forma de cantar combina perfeitamente com o mood da canção. Nina merece o silêncio que fazemos ao ouvi-la: dá até para ignorar o seu francês canhestro. Das gravações um pouco mais recentes, merecem lugar especial a de Dee Dee Brigdgewater, há anos radicada na França e a de Karrin Allyson. Ela é mais ou menos conhecida do público brasileiro. É admiradora da música brasileira e já gravou vários clássicos da bossa nova, cantando-as em inglês e em um português razoável, até. Seu Ne me quitte pas está no cd From Paris to Rio, da gravadora Concord.

A versão em inglês – If You Go Away –, cuja letra é bem inferior à original, tem grandes registros. Uma delas é da cantora Helen Merrill, em que Stan Getz faz um belo solo de introdução tocando parte do Terceiro Movimento da 3a. Sinfonia de Johannes Brahms e a funde com o tema da canção. Ela está em Just Friends, de 1999, lançado pela gravadora EmArcy. A outra é de Shirley Horn, que está em May the Music Never End, de 2003. Os dois registros são excepcionais e essenciais.

Aos que preferirem uma versão instrumental, a do conterrâneo de Brel, Toots Thielemans, é ótima. O cd Chez Toots é de registros de alguns clássicos essenciais do cancioneiro francês.

Ne me quitte pas é um pouco como Aquarela do Brasil: é uma música que só não deve ter sido gravada por algum marciano, por enquanto. No YouTube estão disponibilizados uma enormidade de interpretações dela. Abaixo, listo os links de boas interpretações de Sting, Dusty Springfield e Patricia Kaas. Agora, se alguém quiser conhecer uma interpretação diferente e genial, procurem a do nosso grande Jards Macalé, que está em seu último cd Macao. Com mais de quarenta anos de carreira, continua a nos surpreender.

Eterna Maysa!



O original.



Publicado em 12/1/2010