Maria Gadú é mais um intérprete que gravou Ne me quitte pas. Tem sua originalidade. Maria canta num ritmo “balançado”, em que o lado “fossa” fica de fora. Não combina com a música.
Ne me quitte pas, de Jacques Brel, ganhou mundo |
Se tinha gente que não a conhecia, depois que a interpretação de Maysa dessa música foi utilizada como tema de abertura para a minissérie Presença de Anita, usando “aquele” lugar-comum, de norte a sul, popularizou-se. Tem gente que tende a desprezar o que fica popular. Como se fossem parte de uma “elite”, sentem-se especiais por “gostar” apenas do “que uns poucos eleitos conhecem”. É o preconceito raso dos que “se acham”. O que tem qualidade está acima dessa “pobreza”.
Ne me quitte pas é uma das canções francesas mais gravadas, merecidamente. Caiu não só no gosto dos intérpretes “populares”, mas também no dos que são mais identificados como jazzistas. Dessa infinidade de gravações, talvez a mais conhecida – o que não quer dizer que seja a melhor – seja a de Nina Simone. Sua forma de cantar combina perfeitamente com o mood da canção. Nina merece o silêncio que fazemos ao ouvi-la: dá até para ignorar o seu francês canhestro. Das gravações um pouco mais recentes, merecem lugar especial a de Dee Dee Brigdgewater, há anos radicada na França e a de Karrin Allyson. Ela é mais ou menos conhecida do público brasileiro. É admiradora da música brasileira e já gravou vários clássicos da bossa nova, cantando-as em inglês e em um português razoável, até. Seu Ne me quitte pas está no cd From Paris to Rio, da gravadora Concord.
A versão em inglês – If You Go Away –, cuja letra é bem inferior à original, tem grandes registros. Uma delas é da cantora Helen Merrill, em que Stan Getz faz um belo solo de introdução tocando parte do Terceiro Movimento da 3a. Sinfonia de Johannes Brahms e a funde com o tema da canção. Ela está em Just Friends, de 1999, lançado pela gravadora EmArcy. A outra é de Shirley Horn, que está em May the Music Never End, de 2003. Os dois registros são excepcionais e essenciais.
Aos que preferirem uma versão instrumental, a do conterrâneo de Brel, Toots Thielemans, é ótima. O cd Chez Toots é de registros de alguns clássicos essenciais do cancioneiro francês.
Ne me quitte pas é um pouco como Aquarela do Brasil: é uma música que só não deve ter sido gravada por algum marciano, por enquanto. No YouTube estão disponibilizados uma enormidade de interpretações dela. Abaixo, listo os links de boas interpretações de Sting, Dusty Springfield e Patricia Kaas. Agora, se alguém quiser conhecer uma interpretação diferente e genial, procurem a do nosso grande Jards Macalé, que está em seu último cd Macao. Com mais de quarenta anos de carreira, continua a nos surpreender.
Eterna Maysa!
O original.
Publicado em 12/1/2010