Na capa, trabalho de Anish Kapoor (Model for Memory) |
Ao contrário de Eldar, Vijay Iyer (pronuncia-se “Vijei Aier”) tem mostrado uma evolução sólida e não se tornou vítima de suas habilidades. Tem conseguido produzir bons discos no formato trio e também em parceria com o saxofonista alto Rudresh Mahanthappa, de origem indiana também, italiano de nascimento e residente nos EUA. As raízes indianas, tanto de Rudresh como de Vijay, demonstram o quanto um estilo como o jazz não se esgota. Apresentaram-se no Festival Bridgestone de Música no Rio e em São Paulo há dois anos e deixaram boas impressões. Na votação anual dos melhores do ano, feita por críticos convidados do mundo inteiro, da revista ‘Downbeat’, os dois, coincidentemente, ficaram em primeiro lugar na classificação “Rising Stars” em seus respectivos instrumentos.
A trajetória do pianista é interessante. Fez matemática e física na Yale University e é Ph.D. em física pela Berkeley. Nos encartes e no que fala nos shows e entrevistas, observa-se algo pouco comum no mundo musical: uma atitude “não alienada” quanto à conjuntura mundial. Não é por mero acaso que a capa do último CD seja uma imagem de um trabalho de seu meio conterrâneo, o anglo-indiano Anish Kapoor. Assim, passa uma imagem de contemporaneidade tal como o som que produz. Seu álbum Reimagining, com uma originalíssima (re)interpretação de ‘Imagine’, de John Lennon, e ‘Tragicomic’, lançado pelo selo Sunnyside, além deste último – Historicity –, já pelos títulos, são uma forma de “engajamento” ao tempo em que vive. Não seria gratuito, outrossim, refletir um pouco sobre o que dá misturar água e óleo, ou melhor arte e política. O bom exemplo de sempre é o realismo socialista. Iyer porém, pelo que parece, não tem essa pretensão. É apenas uma forma de estar antenado ao mundo em que vive.
Iyer é um pianista “nervoso”, vigoroso, se usamos uma expressão menos abstrata. Lembra músicos reconhecidos como o “avant-garde” Andrew Hill e em muitas passagens, McCoy Tyner, pianista do universo modal.
O último CD de Vijay, lançado em 2009, pela ACT, foi considerado um dos melhores lançamentos do ano pela revista Jazz Times. Pela Downbeat, o melhor do ano, deixando para trás um figurões como Keith Jarrett e Joe Lovano. É merecido o reconhecimento. O CD representa a evolução dele como compositor e intérprete. Completando o trio estão seus parceiros costumeiros, com Stephan Crump no baixo e Marcus Gilmore na bateria. Além das composições próprias, constam músicas como Somewhere, de Leonard Bernstein e Stephen Sondheim, Smokestack de Andrew Hill, Dogon A.D., do saxofonista e flautista Julius Hemphill, ex-integrante do World Saxophone Quartet, Mystic Brew, de Ronnie Foster, e também , Big Brother, do músico “pop” Stevie Wonder.
Qualquer música, seja dele ou não, tem sua marca. Até em Somewhere, a única que pode ser considerada um standard. Um pouco cá um pouco lá reconhecemos o tema de Somewhere. As variações que enseja na música são uma demonstração de seu poder de improviso.
Sua antena direciona-se aos temas “pops” de M.I.A. (Mathangi Maya Arulpragasam), cujos pais são de Sri Lanka. Não conheço a original, mas pelo que conheço dessa autora cultuada pela crítica – vejam, tudo é questão de gosto e preferências – Iyer fez milagre, pois é uma das boas faixas do CD. Outros destaques são Helix, composição própria, Dogon e Mystic Brew. Trident: 2010, outra própria, é outra faixa muito boa e lembra muito, com a composição de Ronnie Foster, McCoy Tyner. Desconheço se a música foi inspirada num dos grandes álbuns do excepcional acompanhante ao piano de John Coltrane, Trident, que gravou com o baterista Elvin Jones e o baixista Ron Carter, mas que lembra bem, lembra.
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