Meu interessse por música vem de longe. Lembro que quando tinha uns 12 anos, meu pai resolvera dar um tanto em dinheiro para cada um dos filhos para não ter o trabalho de ficar escolhendo um presente de Natal. Gastei tudo em disco: cinco compactos simples. Acho que a maior parte dos leitores nem deve saber o que é um compacto simples ou um compacto duplo. Como os lps – discos de vinil, que estão voltando à moda – eram muito caros, esses disquinhos de vinil com duas músicas – uma de cada lado, por isso até hoje se fala em “lado A” e “lado “B” – eram a opção para os menos abonados.
Na adolescência a gente vai arrumando “turminhas”, uma para o futebol, outra para sair e outra para ouvir música. Nessa época, começo da década de 1970 – daí, quem quiser saber quantos anos tenho, já pode imaginar – o bacana era ouvir Led Zeppelin. Meu primeiro lp foi o terceiro deles. Botava Immigrant Song, a primeira faixa para arregaçar as caixas da velha vitrola Garrard de meus pais. Além do Led Zeppelin, nossa turma estava descobrindo um novo tipo de música que surgia, o chamado rock progressivo (Yes, Gentle Giant, Emerson, Lake & Palmer), que para nós, metidos a besta, era um avanço em relação ao rock, muito primário para as nossas inteligências. Ninguém é perfeito, muito menos um adolescente.
Bom, nem é preciso dizer que gastava toda a minha mesada comprando discos… e livros: Hemingway, Fitzgerald, e os latinos Jorge Luis Borges, Julio Cortázar, Alejo Carpentier e Juan Rulfo. Lia uns dois por semana. O rock progressivo perdia um pouco de graça e também fui mudando de turma. Uma amiga do cursinho emprestou-me uns lps do Weather Report e do Soft Machine. Até hoje Robert Wyatt, fundador do Soft, é um dos meus ídolos. O jazz-rock foi a porta para a minha curiosidade de conhecer outros gêneros musicais, como o jazz, MPB e a música clássica. Descobri Duke Ellington, Charles Mingus, Debussy, Stravinsky e, principalmente, Miles Davis. Os primeiros que conheci eram da fase elétrica – Bitches Brew, Agharta e Get Up With It –, depois fui comprando os mais antigos. Cheguei a ter, só dele, uns 60 lps, fatia significativa de um total de 4.500 lps que cheguei a ter. Com o advento do CD, fui vendendo ou dando-os para os amigos e hoje devo ter uns 300 a 400. Só de Miles Davis tenho 80 CDs. Quando me encanto por um artista ou uma obra, como todo contumaz colecionador, estou sempre atento a um novo lançamento. Do Cravo Bem-Temperado, de Bach, tenho cinco interpretações (desde a primeira gravação integral do Cravo, por Edwin Fischer, em 1934, até os mais recentes como os de Sviatoslav Richter, Glenn Gould, András Schiff e, pouco menos, da cravista Wanda Landowska
Quando o CD foi lançado – é, tudo muda rapidamente – fiquei pensando no destino que meus “bolachões” teriam. Aos poucos fui substituindo-os por esses míseros disquinhos prateados que possuiam a vantagem de não reproduzir os chiados causados pela estática e pelos riscos. Uma capa de lp é uma capa de lp, a do CD é uma titica de 12 x 13 cm. Mesmo achando isso, minha coleção de CDs, hoje, ultrapassa em muito o que tive de lps. Um pouco de estatística que revela meus gostos: 45% jazz, 12% clássicos, 28% pop/rock e 15% MPB.
Quero inventar uma casa que pode ser ampliada modularmente. Sempre estou projetando um novo armário ou uma nova estante. Tenho livros e cds até no banheiro. Pior: junta uma poeira! E até hoje não consegui arrumar alguém que ousasse limpá-los. De ano em ano tento dar uma geral. Bom, além dos CDs tenho uns 2 mil dvds, sendo mais da metade, filmes em que estão incluídos quase tudo de Antonioni, Bergman, Fellini, Kurosawa, Welles e Ozu, meus preferidos.
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