Ella Fitzgerald |
Ella começou cedo, com menos de vinte anos. Descoberta pelo baterista Chick Webb, tornou-se crooner e nem a morte prematura de seu mentor foi obstáculo à sua ascensão. Antes de gravar pela Verve Records foi contratada da Decca. Alguns registros dessa época tornaram-se indissociáveis de Ella. Na Verve, sob a direção de Norman Granz, gravou uma série de songbooks com standards dos compositores como os irmãos Gershwin, Harold Arlen, Cole Porter e outros notáveis que revolucionaram a música americana do século XX.
Na Decca o repertório foi mais variado e, provavelmente, não era tão focado no jazz. Alguns dizem que era a mão do produtor e manager Milton Gabler. Existe, no entanto, mais de uma vez Ella disse ser uma cantora de baladas. E, realmente, nesse gênero era incomparável. Seu My One and Only Love é daquelas de amolecer até os corações dos broncos e brucutus. Ella quando iniciou a carreira tinha uma voz de menina. E é uma das poucas que conseguiu mantê-la quase igual durante a carreira. As de Sarah Vaughan e Billie Holday ou mesmo da brasileira Leny Andrade, para o bem ou para o mal, sofreram transformações radicais. Compare-se os registros de Holiday da gravadora Columbia, década de 1930 e seus registros dos anos 1950 pela Verve. A limpeza da voz ainda não castigada pelos excessos fazem das gravações da Columbia, em que é acompanhada por luminares como Lester Young e Teddy Wilson definitivas. Com o tempo, foi ficando pesada e sofrida. Com certeza, muitos preferem suas gravações tardias, pela dramaticidade ou por uma tendência natural do ser humano de se emocionar – ou se extasiar – com a desgraça do outro. Com Sarah aconteceu a mesma coisa. Basta comparar as primeiras com as últimas registradas pela gravadora Pablo. Que força tem Send in the Clowns, de Stephen Sondheim, na voz espessa e rascante de Vaughan, às vezes incômoda pelo excesso de vibrato, mas que qualidade!
Pois com Ella, cuja presença se devia, simplesmente, à voz, apesar de se dizer que teve duas uniões – fora a com Ray Brown – que não são paradigmas de felicidade: o primeiro era traficante de drogas. Anos depois, dizem, teve um relacionamento com um norueguês que foi preso por roubar uma antiga namorada. Pelo que parece, não teve sua carreira afetada por esses episódios e nem foram notícias na época. É como se sua vida particular tivesse sido invisível.
Bom, falando menos da vida alheia, o que importa e o objeto aqui são algumas canções que são só d’El(l)a. Uma é A-Tisket, A-Tasket, de 1938. Ella gravou e ninguém mais conseguiu cantá-la com aquele frescor e leveza. Dee Dee Bridgewater gravou no disco-tributo ‘Dear Ella’ e existe outro registro no DVD We All Love Ella, com a filha de Nat “King” Cole, Natalie. Registro mais duas: (I Love You) For Sentimental Reasons, que canta com The Delta Rhythm Boys, e If You Can’t Sing It) Mr. Paganini, de Sam Coslow. De Sentimental Reasons, tem a de “King” Cole, claramente calcada na de Ella – It’s Only a Papermoon é outra que ele canta, não sei se é coincidência. Mr. Paganini é superlativa: lindo arranjo, belos scats, riffs de sopros, alternâncias de clima. Ouvir esta música é imaginar um mundo divino e maravilhoso.
Este texto era para ser uma introdução a mais duas preferidas que vão ficam para outra vez: Stairway to the Stars e I’ve Got the World on String.
Veja Ella cantando Mr. Paganini:
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