Em uma matéria numa publicação americana, acho que no New York Times, ficamos sabendo que Salinger circulava tranquilamente na pequena Cornish, New Hampshire, e gostava de ir à igreja pelos almoços com rosbife que lá eram oferecidos a US$ 12 e era visto sempre a fazer as compras no supermercado Price Chopper. Nada mais prosaico para quem ficou conhecido como “o” misterioso escritor.
É muito reducionista – e até maldade – relacionar a sua importância à influência “maldita” que possa ter tido sobre palguém como Mark David Chapman, que assassinou John Lennon. Parece que Apanhador era seu livro preferido e o carregava quando descarregou sua arma acertando quatro tiros no cantor após pedir um autógrafo. É fazer pouco de alguém que, com sua obra, influenciou mais de uma geração. Depois de Apanhador…, li quase tudo o que escreveu – o que não é muito – e em muitas ocasiões, tratei de presentear amigos e amigas que não conheciam JD. Mas meu livro preferido é Nove Estórias. Sempre gostei de títulos. Atraiu-me pela estranheza, o conto Um Dia Ideal para os Peixes-Banana. Tornou-se um dos meus preferidos.
De 50 a 50: do início da década de 1950 são mais de 50. Jimmy Page, Jeff Beck, Eric Clapton têm mais de 50 anos. |
Salinger é pretexto apenas para o título deste texto e também por representar uma época em que houve a explosão de uma das manifestações musicais mais poderosas: o rock. Independente de considerar-se uma manifestação da baixa cultura, como muitos pensam, foi uma ferramenta poderosa para uma radical transformação nos costumes. Foi ferramenta e também foi fruto. E qual é o instrumento ícone do rock: a guitarra. É o instrumento em que o acústico torna-se elétrico, amplificando-se em poderosos decibéis.
Davis Guggenheim (diretor do “filme catástrofe” Uma Verdade Incoveniente) conseguiu juntar três grandes guitarristas de diferentes gerações e montar um documentário. É um prato cheio para os amantes do rock e até para os nem tanto. A Todo Volume (It Might Get Loud), título desse filme feito em 2008, passou quase despercebido pelo público ao ser exibido comercialmente. Vi na Mostra Internacional de Cinema em 2009 e digo que gostei. Sem muita autocrítica. Paixões não são lá muito autocríticas. Que prazer! Lembrou-me que na minha adolescência apaixonara por Led Zeppelin e pela guitarra de Jimmy Page e também que, ao descobrir o outro Jimmi – este com “i” – passava meus dias a ouvir seus discos. Faço parte de um em milhões de pessoas.
As três gerações são Jimmy Page, dos anos 1960/70, The Edge, da banda U2, uma das mais longevas do universo do rock – estão na estrada desde início dos anos 1980 e continuam bons –, e Jack White, do White Stripes. É incrível o respeito que um tem pelo outro: cada um aprendeu com o outro e admiram-se. É incrível que o Led Zeppelin ainda impressione o adolescente dos anos 10 deste século. São 40 anos de lá para cá. A guitarra poderosa de Jack White, nos primeiros discos do White Stripes, são puro Page. E isso não é demérito. E a White cabe tocar com um de seus ídolos.
É um verdadeiro presente àqueles que gostam de rock, difícil de descrever. É melhor vivê-lo assistindo a esse filme. É uma sinergia incrível quando tocam juntos os hoje clássicos da dupla Page & Plant, como In My Time of Dying ou I Will Follow, um dos primeiros sucessos do U2. E é demais ver como a pulsão primordial do rock continua viva nas mãos de jovens como Jack White, brilhante guitarrista e cantor. Sua energia não se esgota em vários discos lançados pela banda White Stripes e seus outros projetos como a banda Raconteurs e, mais recentemente, o Dead Weather.
O final do documentário guarda uma pérola: os três interpretam The Weight, uma das grandes composições de Robbie Robertson, do The Band. O DVD foi lançado em duas versões, a normal e em BlueRay.
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