quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Toninho Horta, um talento pouco reconhecido?

Toninho nas alturas
Talvez por uma timidez atávica, Toninho Horta não tem o seu talento reconhecido no Brasil. Não é o único. O peso do marketing das gravadoras pesa bem. De vez em quando somos colhidos por avalanches como a do fenômeno Michael Jackson. O mercado tem essa característica blitzkrieg de atuar e nos fazer engolir qualquer coisa. No lançamento do álbum Thriller fomos literalmente “invadidos” pelas rádios, mtv’s da vida, Fantástico e outros órgãos de comunicação. Essas “invasões” são autoritárias e afetam o senso crítico das pessoas.

Nos anos 1960 aconteceu o fenômeno Beatles com os britânicos invadindo os EUA. Os marquetólogos não eram tão sofisticados como agora, mas é certo que havia uma estratégia por trás disso. Os Beatles acabaram e são cultuados até agora e a “marca” é vendida na forma de edições remasterizadas de todos os lps em mono e em estéreo, em adaptações para espetáculos como o que é apresentado pelo Cirque du Soleil, em gadgets e até em jogos para o Playstation e o X-Box, como o The Beatles Rock Band, que é um kit com bateria, microfone e uma réplica do baixo Rickenbaker de Paul McCartney. Os talentos reais estão acima do marketing. Os Beatles é uma banda para várias gerações. Sei de meninos de 10/12 anos que sabem cantá-los de cor, o que, até hoje, não consigo. Vejo crianças de todas as idades maravilharem-se vendo o desenho animado Yellow Submarine. Isso é prova de que, com ou sem marketing, continuam geniais e contemporâneos. Não é possível prever o tempo que vai durar o “fenômeno Michael Jackson”. O peso do mercado fez, pelo menos, uma vítima: ele, Michael.

Pode ser audácia demais se dizer que o talento está acima das armadilhas mercadológicas. Mesmo num lugar como o Brasil, ele impõe uma quantidade absurda de grupos sertanejos, de axé, de cantoras-dançarinas belas, de belo corpo e vozes menos, numa estratégia que só emburrece. Músicos com o perfil de Toninho Horta acabam sendo tragados pela indústria cultural rasteira, mas isso não acontece apenas no Brasil. Mas, a arte, como diz o artista plástico Boi (José Carlos Ferreira), “é um verbo auxiliar; presta-se a quem dela precisa.” Às pessoas que possuem a capacidade de discernimento para fruirem da arte de boa qualidade cabe propagar seus conhecimentos. E não são poucas. Se Toninho não é tão conhecido como Claudia Leite, paciência. Não é por isso que deixa de ser bom. A lógica do mercado brasileiro é tão cruel que não lançam discos de Egberto Gismonti há anos. Lançou um cd duplo chamado Saudações e, até onde sei, foi comentado apenas uma vez, merecendo página inteira em matéria de João Marcos Coelho, no jornal O Estado de S. Paulo. Quem quiser o disco, encomende em sites como a Amazon. Quase não se fala do músico de maior projeção internacional, atualmente, e não se falará muito de Toninho Horta nem de João Rabello, grande violonista, filho de Paulinho da Viola, sobrinho de Raphael Rabello e neto de César Faria. Contraditoriamente, falam bastante de Hamilton de Hollanda, de Yamandú Costa, André Mehmari e de Benjamin Taubkin. São bons intérpretes e fazem parte da seara da vida inteligente. Mas tem muito mais gente.

Minha amiga Maria Tereza disse que Toninho Horta está gravando um CD com participações de Ivete Sangalo, Djavan, Ivan Lins, Frejat, Beto Guedes, Erasmo Carlos e Sergio Mendes. Vamos esperar o lançamento do cd torcendo para que não tenha ficado “popularesco” e que fique mais popular sem perder suas melhores qualidades.

Uma das belas composições de TH é Vento. Achei um vídeo. Vejam também o “TH jazzístico” em Stella by Starlight, com Gary Peacock e Jack DeJohnette e participação especial de Nivaldo Ornellas.



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