quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Pra cima com a viga, moçada

Chuvas, tempestades, terremotos e tsunamis têm castigado o mundo. No meio de tanta desgraça, quase despercebidamente, J.D. Salinger, autor de Apanhador no Campo de Centeio morreu. É um livro que marcou algumas gerações posteriores à Segunda Grande Guerra e é bem possível que as atuais ainda sejam capazes de se impressionar com as desventuras de Holden Caulfield. Uso “morte” em vez de “desaparecimento” pois Salinger há muito tinha “desaparecido”. Do mesmo modo que é estranho a alta exposição a que estão sujeitos até profissionais não exatamente ligados ao show business – como os escritores – é também o “deixem-me só” de JDS. Não é o único. Já houve Rimbaud – era mais fácil “sumir” antigamente –, e depois do autor de Apanhador, temos o exemplo de Thomas Pynchon e, no Brasil, o de Dalton Trevisan.

Em uma matéria numa publicação americana, acho que no New York Times, ficamos sabendo que Salinger circulava tranquilamente na pequena Cornish, New Hampshire, e gostava de ir à igreja pelos almoços com rosbife que lá eram oferecidos a US$ 12 e era visto sempre a fazer as compras no supermercado Price Chopper. Nada mais prosaico para quem ficou conhecido como “o” misterioso escritor.

É muito reducionista – e até maldade – relacionar a sua importância à influência “maldita” que possa ter tido sobre palguém como Mark David Chapman, que assassinou John Lennon. Parece que Apanhador era seu livro preferido e o carregava quando descarregou sua arma acertando quatro tiros no cantor após pedir um autógrafo. É fazer pouco de alguém que, com sua obra, influenciou mais de uma geração. Depois de Apanhador…, li quase tudo o que escreveu – o que não é muito – e em muitas ocasiões, tratei de presentear amigos e amigas que não conheciam JD. Mas meu livro preferido é Nove Estórias. Sempre gostei de títulos. Atraiu-me pela estranheza, o conto Um Dia Ideal para os Peixes-Banana. Tornou-se um dos meus preferidos.
De 50 a 50: do início da década de 1950 são mais de 50.
Jimmy Page, Jeff Beck, Eric Clapton têm mais de 50 anos.
Raise High the Roof Beam, Carpenters, em sua primeira tradução no Brasil, chamou-se ‘Para Cima com a Viga, Moçada!’ e saiu pela Editora Brasiliense. Na outra tradução, de Jorio Dauster, pela Companhia das Letras, chamou-se Carpinteiros, Levantem Bem Alto a Cumeeira. Prefiro a primeira porque o “Para cima” me parece mais enérgico e tem mais a ver com os “clamores” da juventude.

Salinger é pretexto apenas para o título deste texto e também por representar uma época em que houve a explosão de uma das manifestações musicais mais poderosas: o rock. Independente de considerar-se uma manifestação da baixa cultura, como muitos pensam, foi uma ferramenta poderosa para uma radical transformação nos costumes. Foi ferramenta e também foi fruto. E qual é o instrumento ícone do rock: a guitarra. É o instrumento em que o acústico torna-se elétrico, amplificando-se em poderosos decibéis.

Davis Guggenheim (diretor do “filme catástrofe” Uma Verdade Incoveniente) conseguiu juntar três grandes guitarristas de diferentes gerações e montar um documentário. É um prato cheio para os amantes do rock e até para os nem tanto. A Todo Volume (It Might Get Loud), título desse filme feito em 2008, passou quase despercebido pelo público ao ser exibido comercialmente. Vi na Mostra Internacional de Cinema em 2009 e digo que gostei. Sem muita autocrítica. Paixões não são lá muito autocríticas. Que prazer! Lembrou-me que na minha adolescência apaixonara por Led Zeppelin e pela guitarra de Jimmy Page e também que, ao descobrir o outro Jimmi – este com “i” – passava meus dias a ouvir seus discos. Faço parte de um em milhões de pessoas.

As três gerações são Jimmy Page, dos anos 1960/70, The Edge, da banda U2, uma das mais longevas do universo do rock – estão na estrada desde início dos anos 1980 e continuam bons –, e Jack White, do White Stripes. É incrível o respeito que um tem pelo outro: cada um aprendeu com o outro e admiram-se. É incrível que o Led Zeppelin ainda impressione o adolescente dos anos 10 deste século. São 40 anos de lá para cá. A guitarra poderosa de Jack White, nos primeiros discos do White Stripes, são puro Page. E isso não é demérito. E a White cabe tocar com um de seus ídolos.

É um verdadeiro presente àqueles que gostam de rock, difícil de descrever. É melhor vivê-lo assistindo a esse filme. É uma sinergia incrível quando tocam juntos os hoje clássicos da dupla Page & Plant, como In My Time of Dying ou I Will Follow, um dos primeiros sucessos do U2. E é demais ver como a pulsão primordial do rock continua viva nas mãos de jovens como Jack White, brilhante guitarrista e cantor. Sua energia não se esgota em vários discos lançados pela banda White Stripes e seus outros projetos como a banda Raconteurs e, mais recentemente, o Dead Weather.

O final do documentário guarda uma pérola: os três interpretam The Weight, uma das grandes composições de Robbie Robertson, do The Band. O DVD foi lançado em duas versões, a normal e em BlueRay.

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