Muitos dos episódios marcantes na vida de cada pessoa ligam-se a algum elemento externo. Um acontecimento ou uma cena trazem uma lembrança. Na brevidade de uma canção se concentra alguma emoção. Ela pode ser boa ou má. Um amigo, ex-preso político, uma vez disse que odiava Roberto Carlos. Bem naquela hora tocava no rádio aquela que diz “eu quero ter um milhão de amigos”. Especificamente essa música. Quando colocavam algumas músicas de Roberto, sabíamos que alguém estava sendo torturado”, disse. Felizmente, é mais comum associarmos músicas com momentos positivos.
June Christy foi uma das crooners de Stan Kenton
Não há melhor coisa do que sermos “capturados” desavisadamente por alguma música que toca no aparelho de som de sua casa, no rádio do carro, numa canção que não conhecíamos e se revela num filme qualquer. Se fosse fazer uma lista à maneira de Nick Hornby, escritor de Alta Fidelidade, teria de fazer uma contendo mais de três dezenas de músicas. Como são inúmeras e fazerem parte de milhares ouvidas até agora, as lembranças ressurgem quando, desavisadamente, ouço algumas delas. Tinha posto a trilha do filme Midnight in the Garden of Good and Evil (Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal, direção de Clint Eastwood) e lembrei de uma: Midnight Sun, neste cd interpretada por Diana Krall. Lembro que de tanto gostar – no tempo em que foi-me revelada não existia essa facilidade dos lyrics.com pela internet –, tentei tirar a letra. Travava sempre no terceiro verso. Tinha um “aurora borealis” que não conseguia decifrar. Por associação, por “each star” descobri. Os versos eram verdadeiras imagens com uma sofisticação fonética maravilhosa: “Your lips like a red and ruby chalice, warmer than the summer light/ The clouds were like an alabaster palace to a snowy height./ Each star its own aurora borealis, suddenly you held me tight/ I could see the midnight sun.” O “red and ruby”, as rimas de “light”, “height”, “tight”, “alabaster” com “snowy”, me faziam ver cores e imagens que evocavam um momento especial: “And then your arms miraculously found me, suddenly the sky turned pale,/ I could see the midnight sun”. Assim ela viu o sol da meia noite, quando os braços do outro a envolvem, quando o sol esmaeceu.
Lembrei-me que na época estava fanático por uma cantora que tinha sido crooner da orquestra de Stan Kenton, como outras “vozes brancas” de primeira: Anita O’Day e Chris Connor. Havia acabado de conhecer o álbum Something Cool, um clássico. Com arranjos do sofisticado Pete Rugolo, é um daqueles discos imprescindíveis em qualquer discoteca de pessoas de bom gosto. Ah, esqueci de dizer seu nome: June Christy.
Vou comentar rapidamente das várias interpretações da música de Lionel Hampton e Sonny Burke, com letras de Johnny Mercer. Ela é tão perfeita que aguenta até desaforo. Cito apenas aquelas que considero e que conheço. Claro que a minha preferida é a de June Christy. Sorry, amiga, vou deixar a de Ella Fitzgerald em segundo lugar. Outra comparável – nela tudo é, no mínimo, quase perfeito – é a de Carmen McRae. Outras intérpretes femininas que conheço – todas boas – são as de Dianne Reeves, Diana Krall, a também canadense Ranee Lee, Abbey Lincoln, Natalie Cole, Carol Sloane, Dee Dee Bridgewater, Jacintha e Nancy Wilson. Ah, estava me esquecendo de Sarah Vaughan. Pensando bem, sorry again, amiga, Ella vai para o terceiro lugar. A de Sarah está no álbum How Long Has This Been Going on?, rodeada por um time de feras: Oscar Peterson, Joe Pass, Ray Brown e Louie Bellson. Seu Midnight Sun é de ouvir de joelhos. A guitarra de Pass e o piano de Peterson constroem delicadas figuras para a voz superlativa, dramaticamente arrastada de Vaughan.
Das interpretações masculinas, a de Mel Tormé é também superlativa, com sua voz de veludo. Cito uma outra: a de Mark Murphy num “meddley” com Misty. Dos conjuntos vocais, a do Singers Unlimited é de primeira.
Sem jazz. Quero falar da lata. Provei dela em abundância. Meu (ex) cunhado trabalhava lá pelos lados de Furnas/Angra/ e me trouxe duas latinhas que ele resgatou boiando. Muita boa. Sou www.musicanasalturas.blogspot.com
Sem jazz. Quero falar da lata.
ResponderExcluirProvei dela em abundância. Meu (ex) cunhado trabalhava lá pelos lados de Furnas/Angra/ e me trouxe duas latinhas que ele resgatou boiando.
Muita boa.
Sou www.musicanasalturas.blogspot.com