segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

As surpresas do “jukebox” de Cat Power

Em maio de 2008 foi lançado o segundo cd de Cat Power cantando covers. Começa arrasando com uma versão de New York, New York (Fred Ebb/John Kander), simplesmente, estupenda. O excesso de adjetivos para elogiá-la será pouco para o quanto ela deixa sua marca de originalidade em suas interpretações. Ramblin’ Man, de Hank Williams, entra em seguida, quase como uma continuação da primeira faixa. Ao contrário de The Cover Records, em que a instrumentação se resume ao piano, ou ao violão ou guitarra, neste temos intervenções de guitarra, de pianos elétricos, além da “cozinha” baixo/bateria.

Intérprete especial, Chan é ótima compositora. Seus álbuns anteriores são a confirmação dessa sua qualidade. Metal Heart, terceira faixa, é maravilhosa e tinha sido lançada em Moon Pix. É melancólica, “pra variar”, como alguma dor congênita, e é dramática sem derramar-se. Silver Stallion é uma canção de sabor folk, calma. Em Aretha, Sing One for Me um órgão Hammond e um piano elétrico “levantam’ o astral, meio rhythm’ blues. Lost Someone, de Bobby Byrd, Lloyd Stallworth e James Brown, com uma guitarra simples e a bateria marcando a base rítmica é a “moldura” para a voz levemente anasalada da cantora. Lord, Help The Poor & Needy, só com a guitarra, Chan lamenta-se na tonalidade “bluesy light”.

I Believe in You, de Bob Dylan, é energica. Não lembro da interpretação original do americano, mas as inflexões vocais dylanescas são inconfundíveis nesta versão. ‘Song to Bobby’ é a outra original de Cat. Não podiam faltar as músicas “down”, que se encaixam perfeitamente ao seu “jeito” único de cantá-las. ‘Don’t Explain’, original de Billie Holiday e Arthur Herzog Jr. é um dos ponto altos do álbum. A outra é Blue, clássico de Joni Mitchell, bela composição do início de sua carreira da canadense.

Quando foi lançado, houve uma edição especial com um segundo CD. A primeira, I Feel, de Thomas/Dorsey/Gray/Carter/Virgil, só com o piano é Cat Power puro: é aquela sensação de desproteção. Breathless, de Nick Cave, é outro exemplo. O “lado escuro” de Cave combina bem. A guitarra meio Ry Cooder, meio Marc Ribot e os acordes de violão “rastejam”. A canção mais impressionante de bela, no entanto, é Angelitos Negros, de Manuel Alvarez Maciste, que musicou um poema do venezuelano Andres Eloy Blanco. Uma guitarra e a batida da bateria “a la” Bolero, do franco-basco Maurice Ravel, imprimem um clima espanhol em “crescendo”. Descontemos sua dicção na língua espanhola. Ela é perfeita. She’s Got You, de Hank Cochran, é a última faixa. É boa, mas fica eclipsada com a beleza triste de Angelitos. “Siempre que pintas iglesias,/ pintas angelitos bellos,/?pero nunca te acordaste/?de pintar un ángel negro.”: é a última estrofe da música.

Para comparação:

Frank Sinatra, New York, New York:



Cat Power, New York, New York:



Veja e ouça Angelitos Negros:

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